29.11.08 - O início das escaramuças

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Meu almoço é um ciabata com manteiga e um café com leite médio. Às vezes exagero e peço um pão careca como sobremesa.

O melhor ciabata de Belém está na esquina da Braz de Aguiar com a Dr. Moraes. Foi na calçada da Delicidade que eu o Puty nos sentamos para conversar.

O que já houvéramos concluído foi ratificado pelo Puty: trazer o PSDB para a 1ª vice-presidência levara o núcleo do Governo a intuir que o acordo extrapolara a mesa e alcançara as eleições de 2010.

O Chefe de Gabinete do Palácio cantou-me a chapa de 2010: o ex-governador Simão Jatene para governador, o ex-senador Luis Otávio para vice-governador e Jader Barbalho para Senador.

Pensei com os meus botões: “esta é até uma boa opção que eles nos estão dando”. Não quis verbalizar, contudo, o chiste, para não levar a conversa para a adolescência.

O PT não confia em aliados, mantendo-os a uma distância além da regulamentar, o que não permite a conquista e assevera a ruptura, daí a dificuldade do Governo em consolidar uma base no parlamento, onde se refletem as insatisfações do mau tratamento recebido.

Para o PT, os aliados devem ser mantidos em prateleiras altas. Quando ele necessita de algum, desce-o, e, depois de usá-lo, sobe-o de volta, onde se deve manter empoeirado.

Eu já dissera ao Chefe de Gabinete do Palácio que o PMDB não desejava a ruptura que sempre pairava na relação, mas, se o PT investia nela sempre, a partir dali não mais insistiríamos: estávamos preparados para romper.

Observei que o Governo avaliava equivocadamente o nosso movimento de 2010: arregimentáramos 41 prefeitos e 1 milhão de votos e isto, a priori, nos autorizava a marchar com um candidato próprio em 2010 caso houvesse um rompimento.

O candidato do PMDB ao governo seria o Deputado Jader Barbalho. A campanha de 2010, portanto, teria dois ex-governadores a serem confrontados pela atual governadora: Jader em Jatene.

Após mais algumas doses de diálogos de guerra fria, quando os lados fazem questão de protagonizar munições, mas ressalvam os tiros, aventou-se a hipótese, na esteira de solucionar a crise, de o governo montar uma chapa para a mesa, preservando a candidatura do Presidente Juvenil.

Na Assembleia Legislativa do Pará, a eleição do Presidente da Casa se faz em primeiro lugar, e somente depois disto se elege a mesa, onde estava o impasse.

Despedimo-nos convencidos de que o rompimento da aliança, ainda que fosse uma expectativa, não deveria ser uma oportunidade. As respectivas razões para tal ficaram nas entrelinhas do diálogo. Algumas, em certos momentos, foram negritadas.

O Deputado Jader Barbalho me esperava na enorme mesa do Diário do Pará. Narrei-lhe os detalhes do encontro. Ele ouviu circunspecto: avaliava as missivas que mandara ao Governo por mim, assim como as de lá entregues pelo Puty.

À chegada do Deputado Juvenil, já concluíramos que os dois lados fabricavam munição para uma batalha que ambos desejavam evitar, embora não descartassem travá-la.

Embora tivéssemos vantagem numérica consolidada, o Governo contava com a arregimentação usual para nos impor defecções, todavia, a fragilidade do Palácio dos Despachos, nos fazia acreditar que, por mais que algumas defecções houvesse, elas não seriam suficientes para nos bater.

Iniciou-se no sábado, nos dois lados, a contagem dos votos: nós, com a contingência de aferir as possíveis defecções; o governo, no afã de alcançar número para lançar um candidato que pudesse liquidar o Deputado Juvenil.

Cismamos que o Palácio convocaria o Deputado Martinho Carmona, de nossas próprias fileiras, para ser a ponta de lança do seu ataque ao Deputado Juvenil e que, caso o Deputado Carmona aceitasse a operação, o Palácio teria conquistado uma cabeça de ponte consideravelmente perigosa.

Os celulares disparavam o sino a todo o momento: iniciara a intriga, mãe da discórdia, Prima Donna da barganha.

A governadora, quiçá, começou a verificar que poderia estar caminhando uma trilha onde é assaz complicado saber de que lado está o adversário: a política é também a arte da dissimulação.

Os rumores de uma chapa palaciana ganharam corpo. O governo ensaiava cenários e convocava virtuais candidatos: teve dificuldades para encontrar alguém que fosse consenso, mas continuou a providenciar.

À tarde a Governadora decidiu reabrir o diálogo com o Deputado Juvenil, convidando-o a sua residência: interpretamos o movimento como um índice da dificuldade do Palácio em montar a sua infantaria.

O Deputado Jader Barbalho e eu conversamos longamente com o Deputado Juvenil. Estabelecemos cenários de possíveis enfrentamentos. As conclusões eram sempre de que não havia risco cinemático de derrota.

Sob a certeza de que não faltariam votos para a sua reeleição, o Deputado Juvenil, à boca da noite, deixou o seu apartamento rumo à residência da Governadora.

A conversa foi longa. A Governadora estava ponderada, todavia não cedia aos argumentos do Deputado Juvenil.

Alegou que nos 12 anos em que o PSDB ocupou o Palácio dos Despachos, o PT jamais teve assento à mesa da Assembléia Legislativa, portanto não poderia aceitá-los, agora, na 1ª vice-presidência. Advertiu que o PT, em reunião, também emitira resolução no mesmo sentido.

Ao fim, o Deputado Juvenil saiu da residência governamental com um recuo tático do governo: o PSDB seria aceito na mesa, desde que em outra posição geográfica. A Governadora sugeriu a inversão da chapa, ou seja, o PSDB viria para a 2ª vice-presidência e aquele que a ocupava chegaria à primeira.

Ao ouvirmos o relato do Deputado Juvenil sobre o encontro com Sua Excelência, decidimos que o domingo seria uma espécie de armistício. Eu viajaria para Altamira logo cedo, e retornaria à noite, ficando com a aeronave lá para qualquer emergência de retorno.

Era 01H30M da madrugada de domingo quando cheguei em casa. Ann fitou-me. Seus olhos perguntaram como estava a situação.

Respondi que o impasse persistia, embora o rompimento não mais me parecesse tão perto quanto na sexta-feira, mas, que ela continuasse com as gavetas da Paratur limpas, como eu a advertira antes.

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